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Tudo sobre o que influencia e forma o preço do trigo

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Entender como é feita a formação do preço do trigo no mercado interno é fundamental para fazer os melhores negócios envolvendo a commodity, pois, assim, é possível identificar as perspectivas do comportamento do mercado e definir tendências.

Se quiser compreender a evolução do abastecimento do trigo no Brasil e ter um conhecimento mais amplo sobre a precificação do cereal, baixe aqui, gratuitamente, o infográfico sobre a expansão e distribuição do trigo no país.  

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A formação de preço do trigo no mercado brasileiro

Após desregulamentação do mercado, em 1990, os preços recebidos pelos produtores brasileiros de trigo passaram a ser formados de fora para dentro, pela paridade de importação. Isso significa que os moinhos brasileiros pagam pelo cereal produzido no país um preço que, no máximo, seja equivalente à opção de aquisição internacional.

Nesta nova dinâmica, os pilares centrais para a formação de preço do trigo no mercado doméstico são:

  • As cotações internacionais
  • O comportamento cambial (R$ x US$)

As cotações internacionais têm como balizadoras as Bolsas de Mercadorias dos Estados Unidos e direcionam o comportamento dos preços nas diversas regiões do planeta.

Por sua vez, o comportamento cambial interfere na intensidade do repasse das cotações externas ao mercado doméstico.

As movimentações destas duas variáveis definem o custo de importação e, consequentemente, os preços a serem pagos aos triticultores nacionais.

Exemplo prático da influência na determinação do preço do trigo

Um exemplo numérico facilita o entendimento do reflexo destas variáveis sobre os preços domésticos.

O trigo soft norte-americano já chegou a ser cotado a US$ 169 por tonelada na Bolsa de Chicago (Chicago Board of Trade, CBOT). Paralelamente, no interior do Rio Grande do Sul o cereal era negociado a R$ 443/tonelada (preço pago ao produtor no mercado de lote).

Um ano depois, os preços haviam se elevado em 169% em CBOT, atingindo US$ 402/tonelada. No Rio Grande do Sul a elevação foi de 42%, para R$ 663/tonelada.

O repasse menos que proporcional ao mercado gaúcho deve-se em grande parte ao comportamento cambial.

Países referências de preço do trigo para o mercado brasileiro

A referência para a formação de preços de trigo no âmbito global são as Bolsas norte-americanas. Porém, no mercado brasileiro os preços estão mais diretamente atrelados aos preços de venda verificados nos exportadores do MERCOSUL, que possuem vantagens tributárias e logísticas para fornecer o cereal ao Brasil.

Historicamente a Argentina é o maior fornecedor de trigo (em grão e farinha) ao Brasil. Sendo assim, é a principal referência para os preços para os produtores e moinhos brasileiros.

Porém, a Argentina é tomadora de preços no mercado global, cuja referência são as Bolsas norte-americanas. Sendo assim, os preços nos Estados Unidos, na Argentina e no Brasil são altamente correlacionados. A correlação verificada entre as cotações de CBOT e as da Argentina é de 0,92. Entre as cotações argentinas e brasileiras de 0,97. Entre a Bolsa de Chicago e os preços brasileiros a correlação é de 0,91.

Os preços de comercialização do trigo no Brasil são formados pela paridade de importação. Com a desregulamentação do mercado (1990), com a criação do MERCOSUL (1991) e com a valorização da moeda brasileira com o Plano Real (1994), esta paridade tem como base os preços que os parceiros do bloco econômico do Cone Sul colocam seus excedentes nos moinhos brasileiros.

Já a referência para a venda do cereal nos exportadores do MERCOSUL é a paridade de seu produto com o de seus principais concorrentes no abastecimento brasileiro (Estados Unidos, Canadá e Rússia).

Pode-se afirmar que as Bolsas norte-americanas são referência para os preços globais, porém, o repasse das cotações norte-americanas para o Brasil, se dá via países do MERCOSUL (em especial Argentina pelos grandes volumes exportáveis).

Sazonalidade de oferta e o comportamento do preço do trigo

Por ser estacional, a oferta agrícola é concentrada em alguns meses do ano, contrastando como a demanda, que normalmente se dilui de forma homogênea ao longo do mesmo período.

O momento de abundância de oferta e preços achatados é denominado de safra e o de menor pressão vendedora é chamado de entressafra. O cálculo dos índices sazonais busca traduzir a intensidade destes movimentos anuais, que podem servir de apoio a estratégias de estocagem e para o norteando da comercialização ao longo da temporada.

Como os preços no Brasil são formados de fora para dentro, é preciso se levar em consideração a sazonalidade de oferta versus preços não só no Brasil, mas também no mundo e, em especial nos Estados Unidos e na Argentina.

De fevereiro a maio os países localizados próximos à linha do equador disponibilizam 18% do trigo mundial. Porém, é entre junho e setembro que se concentra a oferta global do cereal, com os países do Hemisfério Norte colhendo cerca 75% do trigo do planeta. Por isso, a análise sazonal mostra que é em junho e julho os preços atingem o piso anual. Entre outubro e janeiro os produtores do Hemisfério Sul disponibilizam 8% do trigo mundial, o que não é suficiente para gerar grande pressão nas cotações nos Estados Unidos.

A Argentina é tomadora de preços no mercado futuro norte-americano. Porém, as negociações internas são influenciadas pela sazonalidade de oferta do país. Os argentinos iniciam os trabalhos de colheita do cereal em outubro com 2% do total. Em novembro a colheita corresponde a cerca de 30% dá área total, o que já pode ser sentindo com cotações mais baixas. Em dezembro, a colheita é de 37% do total e os preços seguem recuando.

Contudo, é em janeiro, quando ingressam 25% da safra, que se atinge o piso das cotações. A partir de fevereiro a colheita recua para 6% e os preços iniciam uma recuperação. Entre março e maio o trigo argentino inicia uma curva ascendente de preços. Em junho, com a entrada da safra do Hemisfério Norte, as cotações internacionais recuam e seguram o ímpeto de alta da Argentina. Passada a pressão externa, entre agosto e setembro no pico da entressafra argentina os preços ameaçam uma recuperação. Porém, em outubro ingressa a safra e o ciclo se reinicia

Os reflexos do comportamento cambial sobre as cotações

A dinâmica de formação de preços no mercado de trigo brasileiro se dá de fora para dentro, isto é, as cotações internacionais são sentidas no mercado interno via paridade de importação.

Porém, este reflexo depende do comportamento da taxa cambial no Brasil, que pode potencializar ou amenizar o preço externo quando se faz a conversão para o padrão monetário local. Com a implementação do plano econômico que dava uma moeda forte ao país (Plano Real,1994), até o final primeiro mandato do presidente Fernando Henrique Cardoso (FHC), em 1998, vigorou o regime de bandas cambiais, o qual, sustentado por altas taxas de juros, mantinha a moeda brasileira dentro de bandas mínimas ou máximas pré-estabelecidas. Este foi um período em que houve dificuldades para o setor produtivo local, pois, a moeda forte no Brasil e as vantagens concedidas ao ingresso do cereal argentino pelo MERCOSUL, tornavam o grão importado uma opção barata e confiável para a indústria nacional.

Em termos de formação de preços, neste primeiro momento, com o câmbio relativamente comportado, as oscilações das cotações domésticas seguiam mais intensamente o mercado internacional. Com a desvalorização cambial de janeiro de 1999 o câmbio passou a ser uma variável chave. Interessante destacar que, apesar do esforço empreendido pelas Políticas de Garantia de Preços Mínimos (PGPM) no pós-desregulamentação, o mercado interno responde muito mais aos preços internacionais e ao comportamento cambial, pela paridade de importação, que à presença governamental.

Conclusões e desafios para a cadeia tritícola

Depois que o governo brasileiro deixou de monopolizar a formação de preços em todos os elos da cadeia tritícola brasileira, as cotações praticadas no mercado passaram a ser formados de fora para dentro, pela paridade de importação.

Dentro desta nova dinâmica, com a manutenção da dependência de importações para suprir o consumo nacional, o comportamento dos preços internacionais passou a ser um dos pilares da formação de preços no mercado brasileiro. Por isso, a análise dos preços no mercado doméstico precisa partir de um mapeamento dos principais fornecedores e compradores de trigo no mundo.

Além disso, é preciso conhecer o quadro de abastecimento doméstico de forma detalhada:

  • Estoques
  • Produção
  • Importação
  • Consumo dos moinhos
  • Consumo para ração
  • Consumo para semente
  • Exportações.

A partir de então é possível entender a formação de preços no Brasil. O número de estoque/consumo é o principal indicador fundamental dos mercados agrícolas.

Sendo assim, tendo em mãos os números de produção e consumo estimados para um ano comercial, é possível mensurar o comportamento esperado para as cotações internacionais/locais.

Existe uma alta correlação entre os preços na Bolsa de CBOT/Kansas, na Argentina e no Brasil. Mais de 95% das importações brasileiras de trigo vem dos países do MERCOSUL, em especial a Argentina. Assim, é possível inferir que as Bolsas norte-americanas são formadoras de preços em nível mundial, que a Argentina é tomadora de preços nas Bolsas dos Estados Unidos e que repassa este comportamento para o Brasil pela paridade de importação. Como as produções nos três países (EUA, Argentina e Brasil) ocorrem em momentos diferentes, a sazonalidade de oferta e preços em cada mercado é preciso ser levada em conta.

Em suma, a análise da formação de preços no Brasil é feita pelo custo de importação, tendo como referência os preços de venda na origem externa e a taxa cambial (real/dólar). Por isso, em anos em que os preços internacionais e/ou o câmbio, possibilitam a importação trigo a um custo inferior ao preço mínimo garantido pelo Governo, é necessária uma intervenção governamental para garantir renda aos produtores. Em tese, a entrada na ponta compradora do mercado pagando o mínimo, obrigaria os moinhos a se ajustarem. Isso porque, podendo vender ao preço mínimo, os produtores não disponibilizariam o cereal no mercado. Para se abastecer a indústria moageira seria obrigada a pagar o preço mínimo. Porém, com a opção de importação, a política não tem os efeitos esperados.

Em anos comerciais em que houve combinação de queda das cotações internacionais e valorização do real, somente via PGPM o governo escoou 67% da produção nacional. Mesmo assim, o produtor que não se encaixou neste mecanismo, vendeu a sua produção pelos preços de paridade de importação. Como o produtor nacional tem um custo de produção superior em relação aos principais concorrentes, com exceção de anos em que fatores exógenos elevam o custo de importação, haverá necessidade de subvenção governamental.

Desta forma, a intervenção governamental buscando a garantia de preços mínimos na comercialização acaba sendo um paliativo, que não soluciona o problema de alto custo do cereal nacional em relação às opções estrangeiras. Uma política governamental “dentro da porteira”, buscando a redução do custo de produção nacional para os níveis dos principais concorrentes, pode ser uma alternativa ao modelo atual.

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