Porto Alegre, 22 de março de 2024 – A semana foi de preços firmes para o café arábica na Bolsa de Nova York (ICE Futures US) e para o robusta na Bolsa de Londres. No Brasil, as cotações também avançaram ao produtor diante desse cenário das bolsas e de um dólar próximo a R$ 5,00. Além disso, a oferta é limitada pelo vendedor antes do início da colheita da safra 2024.
Em NY, porém, o mercado segue preso entre 180 e 190 centavos de dólar por libra-peso. Quando cai, encontra suporte em 180 centavos, e quando tem movimentos altistas, não consegue vencer o patamar de 190 centavos, tomando por base o contrato maio.
Segundo o consultor de Safras & Mercado, Gil Barabach, esse comportamento lateral já se estende há algum tempo e marca esse momento de transição, depois do intenso rally do final do ano passado. De um lado, há a questão financeira, com investidores tendo aguardado nessa semana as definições sobre a política monetária dos EUA (Estados Unidos). “O comunicado, após a reunião do Fed da última quarta-feira (20), embora tenha ajudado a dissipar cenários mais pessimistas, reforça a ideia de um início no ciclo de corte de juros nos EUA somente para junho. Nesse sentido, pode desencadear algum movimento de curto prazo em direção aos ativos de maior risco, mas em linha geral pouca coisa mudou. Assim, o Fed deve continuar no radar e os investidores tendem a seguir na defensiva, o que interfere na curva de juros futura, taxa de câmbio e o fluxo de carteira dos investidores”, comenta Barabach. Lógico que acaba influenciando também com o preço do café no curto prazo, colaborando com a falta de direção observada em NY, indica.
Barabach avalia que os fundos ainda carregam uma elevada carteira líquida comprada com café na ICE US, apesar do sutil sinal de redução nessas posições. No último relatório divulgado pelo CFTC esses agentes detinham em futuros 53 mil contratos líquidos comprados com a bebida. Já os estoques certificados de café na bolsa de NY continuam subindo e já somam 560 mil sacas (até a quinta-feira, 21). Esse café está em sua maioria depositado em armazéns na cidade de Antuérpia na Bélgica (93% do total). O café brasileiro participa com 53% do total certificado em bolsa. Há também mais de 100 mil sacas esperando para avaliação. “O fato é que a arbitragem bolsa e físico melhorou, por conta da alta nos preços em NY e diferenciais mais fracos junto às origens, o que voltou a estimular a entrega de café na bolsa de NY. A posição dos fundos segue como termômetro de mercado, enquanto o aumento dos estoques certificados reforça os indicativos de exaustão do movimento de alta em NY”, avalia.
Em Londres, Barabach analisa que o café robusta negociado na bolsa continua muito valorizado. “A produção mais baixa no Vietnã e Indonésia, os problemas no Mar Vermelho e a retração do vendedor asiático, especialmente o vietnamita, justificam esse novo descolamento positivo do robusta em relação ao arábica”, afirma. Assim, a posição maio/24 volta a trabalhar no patamar mais alto em 16 anos. Ele destaca que a arbitragem NY/Londres para a posição maio/24 caiu para 30 cents. Algumas semanas atrás a arbitragem girava entre 40 e 45 cents, o que indica um fortalecimento do robusta em relação ao arábica. “É bom lembrar que a arbitragem alcançou entre 145 e 150 cents no início de 2022, quando o mercado repercutia a falta de café arábica depois da geada no Brasil em 2021”, recorda.
Para o consultor, outro ponto que chama atenção é o spread ainda fortemente negativo entre os vencimentos do robusta em Londres. No fechamento do pregão do dia 20 de março, a posição jul/24 trabalhava US$ 94/t abaixo do contrato spot mai/24. “Reflete a expectativa de aumento na oferta de café partir da chegada de safra brasileira e do início da nova temporada na Indonésia. Essa diferença aumenta para US$ 240/t tomando como referência o vencimento Nov/24, que já retrata o início de nova safra do Vietnã no mercado. O fim do El Nino e a chegada do La Nina eleva a expectativa de uma produção maior de café na Ásia em 2024/25”, avalia. Tanto que a diferença negativa de preço entre os vencimentos continua acentuada ao longo de todo o ano 2025, quando o café robusta no terminal de Londres já é indicado abaixo da linha de US$ 3.000 t, coloca Barabach.
No balanço semanal na Bolsa de Nova York, entre as quintas-feiras 14 e 21, os preços no contrato maio subiram 1%, passando de 183,85 para 185,70 centavos de dólar por libra-peso. Em Londres, no mesmo comparativo, o contrato maio subiu 3,3%.
O mercado físico brasileiro de café voltou a receber suporte das bolsas. O ritmo dos negócios segue cadenciado, com movimento melhorando nos repiques de alta de NY, quando os produtores aparecem mais para as negociações. A oferta curta para alguns cafés, como arábicas de “bebida mais fraca” na entressafra garante bom suporte às cotações, com o café rio tipo 7 na Zona da Mata de Minas, por exemplo, superando a faixa de R$ 900,00 e registrando valor de R$ 915,00 a saca na compra nesta quinta-feira (21).
O café arábica bebida boa no sul de Minas Gerais subiu nos últimos sete dias (até esta quinta-feira, 21) de R$ 1.000,00 para R$ 1.030,00 a saca na base de compra, alta de 3%. O conilon tipo 7 em Vitória, Espírito Santo, no mesmo comparativo, avançou de R$ 860,00 para R$ 905,00 a saca, elevação de 5,2%.
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Lessandro Carvalho (lessandro@safras.com.br) / Agência SAFRAS
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